A pedra no rim é uma alteração extremamente frequente, comumente identificada nos exames de rotina, como a ultrassonografia.
Acredita-se que ela seja inofensiva, sendo muitas vezes negligenciada, principalmente quando não causa sintomas.
No entanto, ela pode causar diversas complicações graves, que podem ser até fatais.
O objetivo deste artigo é explicar como a pedra no rim pode matar, assim como as principais complicações que ela pode causar.
O que é a pedra no rim?
Os cálculos ou pedras nos rins são estruturas sólidas que se formam a partir de sais minerais da própria urina.
Acometem mais homens adultos, mas também podem ocorrer em mulheres e indivíduos de outras faixas etárias.
Atigem diversos tamanhos e localizam-se em diferentes partes dos rins.
Em muitos casos, os cálculos renais não causam sintomas e são identificados ao acaso, durante exames de rotina, como a ultrassonografia.
No entanto, em alguns casos estes cálculos podem manifestar diversos sintomas e desencadear graves complicações.
Como a pedra no rim pode causar complicações?
Elas podem gerar complicações basicamente de duas formas:
- Ao migrar para o ureter e impedir a saída da urina (ureterolitíase);
- Ao crescer e desenvolver infecções urinárias.
Quando estes cálculos migram e impedem a saída da urina, desencadeiam sintomas intensos, conhecidos como cólica ou crise renal.
Dor lombar intensa, náuseas, vômitos e sangramento na urina estão presentes nesta situação.
Quando não ocorre a desobstrução precoce deste cálculo, podem surgir complicações graves, como o desenvolvimento de infecções e a perda da função renal.
Isso também pode ocorrer em cálculos extensos, que são colonizados por bactérias e predispõem a infecções urinárias de repetição.
Estas infecções podem levar a graves complicações, como danos renais irreversíveis, abscessos e até uma infecção generalizada.
Para diferenciar uma cólica renal de uma complicação mais grave, é fundamental conhecer os sinais e sintomas, que explicaremos a seguir.
Quais os sintomas de uma complicação grave de pedra no rim?
Os principais sinais e sintomas de complicações graves das pedras nos rins são:
- Febre ou calafrios;
- Aumento da frequência cardíaca e respiratória;
- Queda na pressão arterial;
- Queda na saturação de oxigênio;
- Diminuição do nível de consciência.
É fundamental lembrar que a frequência destes sintomas é variável e muitos pacientes não manifestarão todos os sintomas.
No entanto, eles são sinais de alerta, pois estas complicações podem ser extremamente nocivas ao organismo do paciente.
A pedra no rim pode matar?
Sim. Existem algumas complicações que podem ser fatais.
Elas são extremamente graves e exigem uma identificação e tratamento precoce.
Estas complicações podem acometer indivíduos de todas as idades, mas apresentam uma maior gravidade em pacientes:
- Idosos;
- Diabéticos;
- Obesos;
- Imunossuprimidos;
- Pacientes com múltiplas comorbidades.
Quais são as complicações graves que uma pedra no rim pode causar?
1. Infecção generalizada
A infecção generalizada é o nome popular para um evento chamado sepse.
De acordo com uma revisão sistemática publicada no World Journal of Urology, a sepse é a principal causa de mortalidade das pedras nos rins.
Ela pode ser causada pela obstrução da via urinária por um cálculo renal e também por cálculos extensos e infecciosos.
Ambos irão predispor a infecções que, se não tratadas adequadamente, podem evoluir para uma pionefrose e até uma sepse.
A sepse é uma condição grave em que o organismo apresenta uma resposta inflamatória intensa e inapropriada a uma infecção.
Dessa forma, a identificação e tratamento precoces são essenciais, pois essa resposta pode levar a consequências graves como a coagulopatia, falha de múltiplos órgãos e a morte.
2. Pionefrose
A pionefrose é a presença de secreção purulenta (pus) no sistema coletor renal.
Este é o local do rim onde a urina filtrada passa até chegar aos ureteres e bexiga.
Esta secreção se forma a partir de uma infecção urinária, secundária a obstruções ou cálculos renais extensos.
Ela pode evoluir para uma sepse, caso não seja tratada de forma precoce e adequada.
O tratamento consiste na drenagem da secreção purulenta através da passagem do cateter duplo J, nefrostomia ou ambos os procedimentos.
É válido lembrar que o tratamento cirúrgico com a retirada do rim em vigência de pionefrose é extremamente perigoso e apresenta uma alta mortalidade.
3. Perda renal
Infecções urinárias desde a infância podem levar a cicatrizes renais, que são áreas fibróticas não funcionantes do rim.
Pacientes com cálculos renais infecciosos apresentam múltiplos episódios de infecção urinária ao longo da vida.
Isso desencadeia um dano renal crescente e progressivo, que pode culminar com a perda irreversível da função renal.
Esta alteração também pode ser causada por cálculos no ureter, que obstruem a saída da urina do rim e aumentam a pressão intrapielocalicial, gerando uma dilatação dos rins.
Caso esta obstrução não seja resolvida precocemente, devido à alta pressão nesta região, ocorrerá uma dilatação e deformação do sistema coletor renal.
Essa deformação pode levar a uma perda gradual da função renal.
Infelizmente, em alguns casos identificamos a perda completa da função renal.
Como diagnosticar uma complicação de pedra nos rins?
O diagnóstico destas complicações é realizado através da história, exame físico, monitorização de sinais vitais, exames laboratoriais, hemocultura, urocultura e de imagem.
Estes pacientes podem apresentar sinais de sepse, com alterações dos sinais vitais e laboratoriais.
Dentre os sinais vitais, os principais avaliados são:
- Frequência cardíaca;
- Frequência respiratória;
- Saturação de oxigênio;
- Pressão arterial.
O hemograma identifica alterações infecciosas com o aumento dos leucócitos com ou sem desvio e aumento de marcadores inflamatórios (PCR, VHS).
Dentre os exames de imagem, o principal é a tomografia computadorizada de abdome e pelve, que pode evidenciar uma dilatação pielocalicial intensa, pionefrose e abscessos.
Como tratar as complicações causadas pelas pedras nos rins?
O tratamento depende do estado clínico e características individuais do paciente, mas basicamente consiste em:
- Monitorização em unidade de terapia intensiva (UTI);
- Antibiótico empírico;
- Desobstrução precoce das vias urinárias;
- Sondagem vesical de demora.
É fundamental ter em mente que a estabilização hemodinâmica do paciente é primordial, caso contrário, o risco da desobstrução cirúrgica pode superar os benefícios.
Desta forma, pode ser necessária a intubação orotraqueal para uma ventilação adequada, assim como medidas mais invasivas para manter a estabilidade hemodinâmica do paciente.
A cirurgia de pedra no rim com a retirada do cálculo não é recomendada em vigência de infecção.
O procedimento recomendado é a desobstrução das vias urinárias, que pode ser feita a partir da passagem do cateter duplo J, nefrostomia, ambos ou até mesmo a drenagem via aberta.
Após a drenagem de pus, é comum observarmos uma piora dos sinais clínicos, que tendem a melhorar gradativamente.
Por isso, a monitorização em unidade terapia intensiva é essencial para o manejo destes casos.
Conclusão
Neste artigo, explicamos como a pedra no rim pode matar, destacando as principais complicações.
É fundamental a identificação e o tratamento precoce, a fim de diminuir as chances e a gravidade das complicações.
Espero que tenham gostado do artigo!
Um abraço.
Perguntas frequentes
Quais os perigos da pedra no rim?
Quando a pedra no rim migra para o ureter, pode ocorrer uma obstrução e cólica renal.
Caso não ocorra a desobstrução precoce, podem surgir infecções urinárias, perda da função renal, sepse e até óbito.
Os cálculos mais extensos, que não migram para o ureter, também podem ser perigosos.
Eles podem desenvolver infecções urinárias graves e perda progressiva da função renal.
Quando a pedra no rim é preocupante?
Microcálculos renais e cálculos localizados no cálice inferior apresentam menores riscos de complicações, mas devem ser monitorados.
Referências
- Whitehurst, Lily et al. “Mortality from kidney stone disease (KSD) as reported in the literature over the last two decades: a systematic review.” World journal of urology vol. 37,5 (2019): 759-776. doi:10.1007/s00345-018-2424-2
- Mann, Uday et al. “Predictors of mortality for patients admitted to the intensive care unit with obstructing septic stones.” Canadian Urological Association journal = Journal de l’Association des urologues du Canada vol. 15,11 (2021): E593-E597. doi:10.5489/cuaj.7118
- Kamei, Jun et al. “Impact of early ureteral drainage on mortality in obstructive pyelonephritis with urolithiasis: an analysis of the Japanese National Database.” World journal of urology vol. 41,5 (2023): 1365-1371. doi:10.1007/s00345-023-04375-2