5 complicações do cateter duplo J que podem ser graves

médico consolando paciente preocupado com a mão na face

O cateter duplo J é um dispositivo que deve ser utilizado temporariamente, após diversos procedimentos urológicos, como por exemplo, a cirurgia de pedra no rim.

No entanto, podem ocorrer complicações do duplo J, tanto pela sua presença, quanto pelo desenvolvimento de alterações no próprio dispositivo.

Elas variam desde alterações leves, de tratamento simples, até consequências graves, como o desenvolvimento de infecções generalizadas e perda do rim.

O objetivo deste artigo é explicar as cinco complicações do cateter duplo J que podem ser graves.

O que é um cateter duplo J?

É um pequeno dispositivo que comunica o rim até a bexiga e garante a drenagem adequada de urina.

Ele pode ser inserido tanto por via endoscópica (sem cortes), quanto por via convencional.

É utilizado normalmente após procedimentos urológicos, como a cirurgia de pedra no rim, estreitamentos do ureter, traumas e por compressões extrínsecas.

O duplo J pode ser inserido com ou sem fio externo.

Quando utilizado o fio externo, ele é removido em 7 a 10 dias.

No entanto, quando não é utilizado o fio externo, a retirada do duplo J deve ser realizada em centro cirúrgico em 4 a 8 semanas (a depender do tipo de cateter).

Atualmente, existem cateteres de longa permanência, que podem diminuir a chance de algumas das complicações citadas no artigo.

Quais são as possíveis complicações do cateter duplo J?

Apesar do cateter duplo J fornecer diversos benefícios, ele não é isento de complicações.

Este é um dispositivo temporário, que deve ser removido ou trocado periodicamente, a depender de cada caso.

Quanto maior o tempo de permanência do cateter, maiores são os riscos destas complicações se desenvolverem.

Elas variam desde complicações mínimas, de fácil resolução, até complicações graves que podem resultar em infecções generalizadas e até perda renal.

A seguir, falaremos sobre as principais complicações do duplo J.

1. Calcificação do duplo J

Esta é a primeira e uma das mais temidas complicações.

Ela ocorre quando o cateter duplo J passa por longos períodos sem ser removido ou trocado.

Com o passar do tempo, múltiplas calcificações vão sendo formadas ao longo do cateter, semelhantes aos cálculos renais.

Em casos mais leves, com poucas calcificações, a retirada do duplo J pode ocorrer de forma normal, sem grandes dificuldades.

No entanto, em casos complexos, principalmente quando o paciente esquece que estava com o duplo J e fica por longos períodos sem a sua retirada (meses ou até anos), pode ocorrer calcificação de todo o dispositivo.

Nestes casos, são necessárias múltiplas cirurgias, muitas vezes de forma combinada entre cirurgias endoscópicas e percutâneas, para a retirada por completo do duplo J e todas as calcificações.

cateter duplo j com múltiplas calcificações em todo o seu trajeto desde o rim até a bexiga
A calcificação é uma complicação do cateter duplo J, em que se formam cálculos em toda a extensão do cateter e pode gerar diversas consequências.

2. Infecção urinária

A colonização bacteriana do cateter duplo J é um achado extremamente comum.

Segundo um estudo científico, publicado no Journal of Urology, há um maior risco de colonização bacteriana no cateter após 90 dias da sua inserção, em indivíduos diabéticos, portadores de doença renal crônica e nefropatia diabética.

Em certos casos, podem ocorrer infecções urinárias, tanto do trato urinário baixo (cistites), como do trato alto (pielonefrites).

Elas podem se manifestar como episódios isolados ou de repetição.

A presença de febre, calafrios, aumento dos sintomas do cateter duplo J, alteração da coloração e cheiro da urina, taquicardia e hipotensão podem ser fatores indicativos de infecção.

Semelhante a outros tipos de infecções, ela deve ser investigada e tratada imediatamente.

A investigação é realizada pelo exame físico, hemograma, exame de urina com urocultura e antibiograma.

O tratamento consiste no uso de antibióticos e na remoção ou troca do cateter.

É válido lembrar que as infecções possuem diversos graus, desde infecções leves até generalizadas, que se não tratadas de forma imediata, podem resultar em sérias consequências.

3. Perda da função renal

Uma das possíveis consequências de uma infecção urinária grave é a perda do rim.

E isso pode ocorrer quando há o desenvolvimento da pionefrose, que é uma condição em que há o acúmulo de secreção purulenta no rim.

Este pús deve ser drenado de forma agressiva, pois pode desencadear uma sepse grave, infecção generalizada e até a morte.

Em determinados casos, a retirada do rim é uma opção para frear a infecção e melhorar o prognóstico do paciente.

A perda renal também pode acontecer quando há calcificações extremamente grosseiras ao longo de todo o cateter duplo J, com afilamento do parênquima renal e perda da sua função.

Ou seja, o dano que este cateter causou ao rim é irreversível e a sua remoção exclusiva não é suficiente, sendo a melhor escolha a retirada completa do rim.

4. Migração do cateter duplo J

A migração do cateter é outra possível complicação.

Mesmo com as duas extremidades em formato de J, com a finalidade de fixar o cateter no rim e na bexiga, seu deslocamento pode acontecer.

Esse deslocamento ocorre mais comumente de forma descendente, ou seja, as duas extremidades do duplo J descem, tanto do rim para o ureter, quanto da bexiga para a uretra.

E qual a consequência disso? Isso resultará em uma perda urinária contínua, em que a urina produzida nos rins sairá automaticamente pela uretra.

Pode ocorrer também a migração ascendente, ou seja, a extremidade inferior do cateter presente na bexiga, sobe em direção ao ureter e, até mesmo, para o rim.

Em ambos os casos, sempre que houver a migração do cateter, é essencial a sua retirada ou o seu reposicionamento.

5. Sangramentos na urina

O sangramento na urina devido ao uso do cateter também é uma consequência do duplo J que assusta muitos pacientes.

O contato deste dispositivo na mucosa do urotélio, pode causar erosões, que resultam no sangramento na urina, visível a olho nu ou microscópico.

Ele faz parte dos sintomas do cateter duplo J e pode ou não ser acompanhado de dor pélvica, desconforto ao urinar e aumento da frequência urinária.

Normalmente o sangramento é autolimitado e não gera perda de grandes volumes de sangue, que possam causar alterações dos sinais vitais (pressão arterial e batimentos cardíacos) ou alterações no exame de sangue.

É essencial que o paciente esteja em contato com o médico urologista para alertar sobre as possíveis complicações, assim como adotar medidas para a sua prevenção.

Como prevenir as complicações do duplo J?

A melhor forma de prevenir as possíveis complicações do cateter duplo J é através da sua retirada ou troca precoce (de 4 a 8 semanas).

Após este período, há um aumento significativo da chance de surgirem estas complicações.

A ingesta de água em quantidade adequada e fracionada, ao longo do dia, também é essencial para evitar algumas complicações.

Por fim, é importante conhecer as complicações e informar ao seu médico urologista sobre os possíveis sinais que as sugerem e que exigem tratamento.

Conclusão

Neste artigo, explicamos as principais complicações do cateter duplo J.

É válido lembrar que, este é um cateter temporário que deve ser removido no momento certo, para evitar possíveis consequências.

Espero que tenham gostado do artigo!

Um abraço.

Perguntas frequentes

Como saber se o duplo J infeccionou?

A presença de febre, calafrios, aumento da frequência cardíaca, queda da pressão arterial e até o aumento do desconforto do duplo J, podem ser sinais de infecção.

No entanto, é essencial procurar o pronto socorro para uma avaliação com o urologista, que irá solicitar exames de sangue, urina, urocultura com antibiograma e exames de imagem (ultrassonografia ou tomografia).

Caso seja confirmada a infecção, deve ser iniciado o antibiótico e este cateter deve ser removido e/ou trocado.

Porque o cateter duplo J dói tanto?

O duplo J causa uma dor intensa em alguns pacientes, pois este é um corpo estranho na via urinária, que fica em íntimo contato com a bexiga, principalmente ao final da micção.

Isso acontece, porque quando ocorre a contração da bexiga na micção, a extremidade do duplo J apresenta maior contato com a mucosa da bexiga, o que gera uma irritação e consequentemente, a dor.

É válido lembrar que a intensidade desta dor é variável de acordo com cada paciente.

Referências

  1. Kehinde, Elijah O et al. “Factors predisposing to urinary tract infection after J ureteral stent insertion.” The Journal of urology vol. 167,3 (2002): 1334-7.
  2. Patil, S., Raghuvanshi, K., Jain, D.K. et al. Forgotten ureteral double-J stents and related complications: a real-world experience. Afr J Urol 26, 8 (2020).

Artigo escrito por:

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Dr. Eduardo Costa

Dr. Eduardo Costa (CRM: 175220-SP / RQE: 103714) é médico cirurgião urologista formado pela FMABC em São Paulo, onde realizou a sua graduação, residência médica de Cirurgia Geral e Urologia. Após a formação, realizou Fellow em Uro-Oncologia na FMABC e se especializou em Cirurgia Robótica e procedimentos minimamente invasivos (videolaparoscopia e laser).

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